sábado, 2 de maio de 2015

Uma nova forma de suicídio


Porque hoje é sim
Amanhã será de outra forma
Mas, por conseguinte, correu de outra maneira
A qual já não te agrada.
Não tarda, recomeças
Não repetes o erro porque tomas precauções
Teimosia é certo
Porém a perfeição.
Exaustiva essa azáfama
Ausência de cansaço ou ocultação do mesmo
Sofrimento,
Apenas quando absolutamente só.
Porque hoje é não
E desta vez assim se mantém,
Nada a acrescentar
Por fim dar razão à razão.
Deste modo, tréguas com a vida
Perdoados os pecados
Reaviva a memória
A paz para de novo se instalar a desordem.
Como um ciclo vicioso
Mulher,
Uma nova forma de suicídio
Essa tua maneira de amar.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Do Alto do Sião

                
                   (dedicado à terra mais linda de Portugal)

                
                                                                                                                 

Vem lá dos tempos
Onde o tempo passa
E tudo fica,
Calma e serena
Repousa santa
Por fim encanta
Tirando do sério.

Das encostas, os machos
Querendo retratos
Banhando d’oiro
A longa vida
D’eterna espera,
Que espera e desespera.

Rio nascente
De mágoas passadas
Onde a gente
Ainda sente
E permanece
Sossegada.
  
Gloriosos foram anos
Que nada
E tanto foram.

É como roupa de Domingo
No mofo da velha mala
Assim se encontra,
Adormecida
Por enquanto,
Esquecida
A um canto, sua bengala.

Em suma:
És vinho tinto
És água ardente
És lusco-fusco
És sol nascente

Imagem que fica
Em teu coração
Cai sempre o sol
Para lá do Marão.








segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Casa da Praia



De súbito um céu estrelado, o regresso da escuridão.
Ressoam ao longe lamentos de longos anos
Que batendo com tamanha força nas dunas
Onde pela hora antiga nos amávamos loucamente
Cria um efeito de coro celeste que em tempos ali passados
Me fazem lembrar um amor de verão, perdidamente apaixonados.
Teu corpo de sereia que me enfeitiçava, teus olhos de medusa traiçoeira,
Tua boca que pedia sempre mais…as ondas do teu cabelo, tuas curvas.
Os nossos corpos que sentiam química
E loucamente queriam a resposta às suas preces,
Suavam à medida que tentávamos travar
Os movimentos involuntários do nosso profundo desejo.
Em verdade, éramos apenas duas pessoas que olhávamos o céu
Onde o horizonte cortava a lua em dois pedaços totalmente iguais,
Porém na nossa mente palpitava um desejo mutuo que a própria natureza
Não podia negar.
Corria-nos no sangue uma alma selvagem que há semanas
Fugia à socapa para naquele sítio de amores nos poderemos encontrar.
Vagabundos da noite, deixava-mos traçada a nossa marca na branca areia,
Que também apaixonada pela nossa meninice,
Guardava o segredo dos jovens amantes.
Pode a casa da praia, eternamente testemunhar
Com suas vidraças viradas para o mar
E  já velha de tanta história,
Parte de duas vidas que ali fizeram juras de amor
Que até aos dias de hoje ainda se fazem cumprir.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Diário I – Mãe


6 de Junho de 2013

Pensei que com a mudança de psicólogo iria tudo mudar, para melhor. Se calhar enganei-me…
Se calhar não! Tenho a completa certeza de que tudo deu para o torto. Remediaria as coisas se nos momentos de tensão, aqueles em que ele mais precisa de mim eu me mantivesse calma.
 Mas digo desde já que nenhuma mãe gosta de ouvir da boca do seu próprio filho que para ele mãe é somente uma chatice, a sua pior inimiga. Uma mãe é um ponto de segurança, um refúgio, uma amiga, uma protecção para todas as horas, é o sim quando lhe dão um não, é coração que dá vida às suas palavras e as faz dançar nos nossos ouvidos até cairmos num sono profundo, onde nada é preocupação. Mãe é o beijo de boa noite que penetra nos nossos sonhos e que nos arranca dos pesadelos, mãe dá vida mas dá também a sua vida para ver um filho feliz.
 Eu disse-lhe:
 “-Se te portas mal tiro-te os brinquedos e dou aos meninos que precisam mais que tu. Obedece à Dona Carlota!”
 Mas quando cheguei a casa é que tive a verdadeira surpresa. Na cozinha tinha à minha espera uma caixa devidamente fechada e tinha também a Dona Carlota a esconjurar o meu rapaz enquanto curava o joelho da Raquel…Não sabia eu o que ainda estava para vir.
 Dirijo-me para a beira da mesa e qual não é o meu espanto ao ver um bilhetinho todo bem dobrado cujo seu destinatário era eu mesma.
 Diz-me então a Dona Carlota:
 “ Sara, o seu diabrete deixou essa pequena mensagem para você ler. Eu não sou de me meter na vida dos outros, mas se ele fosse meu filho…”
 Pensei eu:
 “Ainda bem que não é…”
 Depois de verificar que a Raquelinha estava bem fui para a sala e fixei o pequeno “presente” que o meu filho me deixara. Hesitei em abri-lo durante alguns segundos e pela primeira vez, vi o meu rapaz a tratar-me por Sara e não por mãe. Finalmente após alguma indecisão ganhei coragem e cumpriu-se o destino.
 Então o bilhete dizia assim:
 “ Sara, não peço desculpa porque não fiz mal nenhum. A Raquel meteu-se comigo e eu retribui. Ao pé do frigorífico, como podes ver, estão os brinquedos já encaixotados para dares a outros meninos ou fazeres deles o que tu quiseres. Queria também dizer que não prestas pois estás a tirar a única coisa que ainda me faz feliz. Preferia saber que sou adoptado e que a minha verdadeira mãe anda algures à minha procura, mas infelizmente isso seria bom demais. És a pior mãe que um rapaz pode ter. Odeio-te”.
 Levei o bilhetinho ao novo psicólogo. Ele disse-me que se o Renato já fosse adulto este papel seria a sua carta de suicídio.

Até Breve,

Sara.


    

sábado, 27 de abril de 2013

Diário I – Filho



27 de Abril de 2013

 Cá estou eu de novo, já tem vindo a ser um habito escrever para ninguém o que é de admirar. Nunca consegui levar um diário até ao fim como nunca consegui levar nada na minha vida...Para quem um dia coscuvilhar as minhas coisas  esta última frase vai parecer muito dramática vinda de um miúdo de 9 anos, mas informo-as desde já que não verão mais em mim uma criança pois já penso por cabeça própria. Deixo-as sim a pensar nos problemas da adolescência e em como é bom falar com ninguém. Vá nem sei o que estou para aqui a dizer...agora percebo quando dizem que da minha boca só saem asneiras. Pobrezinhos dos pais, coitadinhos não conseguem controlar a rebeldia do filhinho que para eles será um sempre eterno bebé. Estou farto de ser o saco de pancada aqui do sitio, só encontro descanso perto do Pirata ou da avó Juca.
 Mas queria mesmo contar-te o que se passou hoje. Eu estava no jardim perto da casa da árvore com a bandeira preta e a estúpida da minha irmã, mal virei costas, fez o favor de a destruir para cozer  vestidinhos para as ridículas das suas bonecas. Achas isto normal?! Eu enervado claro, dei-lhe um empurrão e ela bateu com a testa na esquina das escadas. De repente começou a inchar, a sangrar e foi nesse instante que a mãe chegou do seu trabalho que diz ela ser a sua segunda casa. Saiu do carro e nem bom dia nem boa tarde. Desatou aos berros comigo, agarrou-me pelos colarinhos e perguntou-me se achava bem o que tinha feito.
 Que raiva! Ela devia estar calada, calada! Não devia defender a pirralha da minha irmã porque a final de contas eu é que fui o prejudicado desta situação, eu era a vítima não ela! Como é possível depois de tudo o que ela me fez ainda a encher de beijinhos e mimos...sou sempre posto de lado, sou o segundo plano. Às vezes penso não ser desta família  Ei espera lá, serei mesmo desta família  Quem me dera que não...eles não me merecem. Neste preciso instante a mãe está a adormecer a menina querida, duvido que venha aqui ao quarto porque o meu castigo vai durar até aos  60 anos e até lá não verei mais a luz do dia, palavras dos meus pais.
 O que eu precisava era de fugir aqui de casa, por certo que ninguém daria pela minha falta. O pai diz que toda a gente deixa marca onde quer que passe mas eu sei que a minha foi apagada quando a Raquel nasceu.
 Oh....estás a ver? A janela está aberta!!Ela  nem é assim muito alta, bastava um pulinho e estava no jardim. Boa ideia! Vou fazer a mochila, vou fugir  e voltar para a minha verdadeira família  mas só amanhã, primeiro tenho que pensar  num bom plano.
                                                                                       

                                                                                     Até a próxima (se houver)


P.S. Tenho que te dar um nome, não posso passar a vida a chamar-te ninguém. Ah é verdade, hoje a minha professora deu-me um beijinho por eu lhe ter ajudado a levar as pastas para a sala. Será ela a minha verdadeira mãe? Boa Noite...

domingo, 13 de janeiro de 2013

Faz a diferença


Há notícias de destruição,
Há notícias que nos destroem…
Há infâncias perdidas,
Infâncias roubadas,
Há até quem nos roube tudo
E não leve nada!
Há também aqueles que falam de boca cheia
E há aqueles que simplesmente
Não podem falar!
Há dias em que nasce o sol,
Há noites em que cai a lua.
Há gente que mata a fome
E há a fome que mata a gente!
Há a chuva que nos molha o rosto,
Há rostos que se molham sem chuva!
Há quem grite,
Há quem chore,
Há quem ria,
Há quem pense,
Há quem não grite
E que prefere rezar!
Há a Primavera
Há o Verão,
Há quem prefira o Outono
Do que o Inverno.
Há casas vazias
E famílias sem casa
Há falsidade e os falsos amigos
Há o quente, o frio
Há quem morra de frio
Há quem não goste do quente.
Há quem fique de pé
E quem goste de se sentar
Há aqueles que simplesmente preferem ficar a ver.
Há quem durma porque têm cama
Mas há quem não consiga sonhar
Há quem não possa estudar,
Há quem não queira estudar.
Há deputados e varredores de rua
Há quem diga que vai mudar o mundo
E há quem lute todos os dias para o mudar!
Há o pai,
Há a mãe
O avô
A avó
O irmão
O tio
O primo
A madrinha
Eu
E tu!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Carta ao Pai Natal



Nenhures, 22 de Dezembro de 2012

  Querido Pai Natal,
 

  Muitos meninos da minha escola me têm dito que não existes. No outro dia a Gabriela contou à minha professora de Língua Portuguesa, que na meia-noite do dia 24 para 25 de Dezembro do ano passado viu a mãe dela a pôr as prendas no presépio…e eu fiquei a pensar, se a mãe dela lhe põe as prendas, a minha também mas põe. Mas para tirar as minhas dúvidas cheguei a casa e fui ao pé da minha avó, porque a minha mãe ainda estava a trabalhar, o patrão dela é muito mau e só lhe dá a noite de Consoada e o dia de Natal de férias. Contei tudinho à minha avó, e sabes o que ela me disse? Sabes? Ela disse-me que tu existias, mas não ias a casa da Gabi porque ela se portava mal.
  Eu não acho que se porte mal, mas tu é que sabes, tu é que vês tudo. Olha, desde que me lembro de ser menina que me dizem que tu existes, não percebo porque é que agora vêm com histórias que foi a Coca-Cola que te inventou ou que são os pais que dão as prendas aos filhos. Fico muito indignada com essas histórias. É por isso que os meninos da minha idade não têm direito a prendinhas, como eu.
  Sabes o meu pai morreu quando eu tinha 5 anos, por isso eu ia ficar muito triste se não existisses. Tu e o Pai do Céu são as únicas “pessoas” a quem posso chamar de pai e eu sinto que vocês também me protegem e me mimam, tal e qual como ele fazia…Já viste se estes anos todos em que te escrevi cartas, fosse a minha mãe a lê-las? A minha infância era uma mentira!
  Bom, mas outra coisa que te quero contar, ontem fiz anos. A mãe e a avó deram-me um bolo enorme com o meu nome escrito. Fiz 10 anos, já viste como o tempo passou? A tua menina já está a ficar crescida eheheh.
  Agora vamos aos pedidos…porque o que é o Natal senão uma época de pedidos e de publicidades comerciais, não é? Mas agora falando a sério, o que eu te queria pedir é mito fácil, em primeiro lugar queria que lesses a minha carta, em segundo lugar queria que comesses e bebesses o leite e as bolachas que te vou deixar no sítio do costume e terceiro e último lugar queria pedir-te que existisses, mas de verdade.
  Adoro-te muito mesmo.
                       

                     Com amor…

…a tua menina que está a crescer…
Joana.