sexta-feira, 7 de junho de 2013

Diário I – Mãe


6 de Junho de 2013

Pensei que com a mudança de psicólogo iria tudo mudar, para melhor. Se calhar enganei-me…
Se calhar não! Tenho a completa certeza de que tudo deu para o torto. Remediaria as coisas se nos momentos de tensão, aqueles em que ele mais precisa de mim eu me mantivesse calma.
 Mas digo desde já que nenhuma mãe gosta de ouvir da boca do seu próprio filho que para ele mãe é somente uma chatice, a sua pior inimiga. Uma mãe é um ponto de segurança, um refúgio, uma amiga, uma protecção para todas as horas, é o sim quando lhe dão um não, é coração que dá vida às suas palavras e as faz dançar nos nossos ouvidos até cairmos num sono profundo, onde nada é preocupação. Mãe é o beijo de boa noite que penetra nos nossos sonhos e que nos arranca dos pesadelos, mãe dá vida mas dá também a sua vida para ver um filho feliz.
 Eu disse-lhe:
 “-Se te portas mal tiro-te os brinquedos e dou aos meninos que precisam mais que tu. Obedece à Dona Carlota!”
 Mas quando cheguei a casa é que tive a verdadeira surpresa. Na cozinha tinha à minha espera uma caixa devidamente fechada e tinha também a Dona Carlota a esconjurar o meu rapaz enquanto curava o joelho da Raquel…Não sabia eu o que ainda estava para vir.
 Dirijo-me para a beira da mesa e qual não é o meu espanto ao ver um bilhetinho todo bem dobrado cujo seu destinatário era eu mesma.
 Diz-me então a Dona Carlota:
 “ Sara, o seu diabrete deixou essa pequena mensagem para você ler. Eu não sou de me meter na vida dos outros, mas se ele fosse meu filho…”
 Pensei eu:
 “Ainda bem que não é…”
 Depois de verificar que a Raquelinha estava bem fui para a sala e fixei o pequeno “presente” que o meu filho me deixara. Hesitei em abri-lo durante alguns segundos e pela primeira vez, vi o meu rapaz a tratar-me por Sara e não por mãe. Finalmente após alguma indecisão ganhei coragem e cumpriu-se o destino.
 Então o bilhete dizia assim:
 “ Sara, não peço desculpa porque não fiz mal nenhum. A Raquel meteu-se comigo e eu retribui. Ao pé do frigorífico, como podes ver, estão os brinquedos já encaixotados para dares a outros meninos ou fazeres deles o que tu quiseres. Queria também dizer que não prestas pois estás a tirar a única coisa que ainda me faz feliz. Preferia saber que sou adoptado e que a minha verdadeira mãe anda algures à minha procura, mas infelizmente isso seria bom demais. És a pior mãe que um rapaz pode ter. Odeio-te”.
 Levei o bilhetinho ao novo psicólogo. Ele disse-me que se o Renato já fosse adulto este papel seria a sua carta de suicídio.

Até Breve,

Sara.