terça-feira, 7 de agosto de 2012

O grito da coruja



A casa tinha ficado praticamente vazia, só os crentes e pelos vistos mais fortes tinham ficado.
 Às altas gargalhadas e fazendo troça saíram as cabeças ignorantes de três rapazes que de certo pensavam que dada a sua parte fraca, a estupidez de abandonarem o jogo sem pedirem licença, lhes daria um ar mais macho. Orgulhosos e cegos do perigo, afastavam-se, lentamente, e só ao longe se aperceberam que não tinha sido boa ideia, mas o seu arrependimento e medo travaram-lhes os movimentos. Tremendo por todos os lados viam-se num dilema: ou ficavam ali até os outros saírem ou caminhavam em direção ao escuro, em direção à encruzilhada onde todo o tipo de bruxaria e feitiçaria negra era  praticada. Naquele momento o escuro das árvores pareciam-lhes vultos à espera de alguém para a forca, barulhos nunca ouvidos em todas as suas vidas rugiam ao longe num espaço de cinco minutos…A agonia, o desespero, o perdão, o arrependimento, talvez de alguém que já partira em direção ao descanso eterno sussurravam sobre as três nucas de meninos amedrontados sem idade para aquelas coisas.
 E na casa continuavam os restantes:
 -Como te chamas?-perguntava.
 O copo deslizava lentamente…Alguém soletrava:
 -A-J-U
 E o outro completava:
 -D-A, ajuda.
 -Cala-te!-dizia o mais medricas com lágrimas nos olhos prestes a lavar a esquina da mesa.
  E assim continuavam:
 -O que podemos fazer por ti?
 Seguindo com os olhos os movimentos lentos e muito silenciosos do copo, dizia ele em voz alta os seguintes nomes:
 -R-I-C-A-R-D-O; A-F-O-N-S-O; G-A-B-R-I-E-L…
 Olharam-se fixamente sabendo que os nomes apontados pelo copo, eram os nomes dos três rapazitos irritantes que fizeram troça de quem nisto acreditava e que saíram do jogo sem autorização. Dizia o Renato tentando compor as coisas:
 -Perdoa-lhes, por favor…!
 Só vos digo, aquilo descontrolou-se mesmo. Os nossos dedos estavam na base do copo, sentimos o vidro estalar e uma forte rabanada de vento. Cheios de medo juramos nunca mais ali voltar. Ainda hoje tento esquecer aquela noite…o terror tinha-se instalado na encruzilhada, os nossos olhos gemiam e gritavam pelos nossos amigos.

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