sábado, 27 de abril de 2013

Diário I – Filho



27 de Abril de 2013

 Cá estou eu de novo, já tem vindo a ser um habito escrever para ninguém o que é de admirar. Nunca consegui levar um diário até ao fim como nunca consegui levar nada na minha vida...Para quem um dia coscuvilhar as minhas coisas  esta última frase vai parecer muito dramática vinda de um miúdo de 9 anos, mas informo-as desde já que não verão mais em mim uma criança pois já penso por cabeça própria. Deixo-as sim a pensar nos problemas da adolescência e em como é bom falar com ninguém. Vá nem sei o que estou para aqui a dizer...agora percebo quando dizem que da minha boca só saem asneiras. Pobrezinhos dos pais, coitadinhos não conseguem controlar a rebeldia do filhinho que para eles será um sempre eterno bebé. Estou farto de ser o saco de pancada aqui do sitio, só encontro descanso perto do Pirata ou da avó Juca.
 Mas queria mesmo contar-te o que se passou hoje. Eu estava no jardim perto da casa da árvore com a bandeira preta e a estúpida da minha irmã, mal virei costas, fez o favor de a destruir para cozer  vestidinhos para as ridículas das suas bonecas. Achas isto normal?! Eu enervado claro, dei-lhe um empurrão e ela bateu com a testa na esquina das escadas. De repente começou a inchar, a sangrar e foi nesse instante que a mãe chegou do seu trabalho que diz ela ser a sua segunda casa. Saiu do carro e nem bom dia nem boa tarde. Desatou aos berros comigo, agarrou-me pelos colarinhos e perguntou-me se achava bem o que tinha feito.
 Que raiva! Ela devia estar calada, calada! Não devia defender a pirralha da minha irmã porque a final de contas eu é que fui o prejudicado desta situação, eu era a vítima não ela! Como é possível depois de tudo o que ela me fez ainda a encher de beijinhos e mimos...sou sempre posto de lado, sou o segundo plano. Às vezes penso não ser desta família  Ei espera lá, serei mesmo desta família  Quem me dera que não...eles não me merecem. Neste preciso instante a mãe está a adormecer a menina querida, duvido que venha aqui ao quarto porque o meu castigo vai durar até aos  60 anos e até lá não verei mais a luz do dia, palavras dos meus pais.
 O que eu precisava era de fugir aqui de casa, por certo que ninguém daria pela minha falta. O pai diz que toda a gente deixa marca onde quer que passe mas eu sei que a minha foi apagada quando a Raquel nasceu.
 Oh....estás a ver? A janela está aberta!!Ela  nem é assim muito alta, bastava um pulinho e estava no jardim. Boa ideia! Vou fazer a mochila, vou fugir  e voltar para a minha verdadeira família  mas só amanhã, primeiro tenho que pensar  num bom plano.
                                                                                       

                                                                                     Até a próxima (se houver)


P.S. Tenho que te dar um nome, não posso passar a vida a chamar-te ninguém. Ah é verdade, hoje a minha professora deu-me um beijinho por eu lhe ter ajudado a levar as pastas para a sala. Será ela a minha verdadeira mãe? Boa Noite...