Todos os dias ela se senta naquela banca
A fazer meia.
Põe uma acha por baixo dos pés para não os arrefecer
E estica-se, mas com cuidado
Não lhe vá saltar nenhuma choina.
De vez em quando, lá vai ela com a tenaz ao lume
Meche as brasas
E meche
E meche…
A sua cara fica coradinha com o calor e aos seus olhos
Sobem as lágrimas.
As suas rugas dão um grito cego e mudo
Que chamam pelo filho que saiu pela porta
E que nunca mais voltou.
Como é possível que ao fim de tantos anos
Ela ainda te espere.
Foste para a guerra sem olhares para trás,
E de ti nada mais soubemos.
Já passou algum tempo, mas mesmo assim
Cada bater de porta
É uma facada no peito
de tua mãe.
Serás sempre uma promessa de regresso
Que nunca voltou.
Meu irmão,
É no sossego da alma que os rios correm para o mar, por isso
Descansa em paz.