sexta-feira, 27 de julho de 2012

À noite



É duro, muito duro mesmo. Eles perseguem-nos, devoram-nos, torturam-nos, moem-nos a cabeça, tiram-nos do sério, fazem-nos chorar, atormentam-nos, não nos deixam dormir…horas a fio sempre neste vai e vem de lembranças.
 É ver o sono passar-nos à frente e a escapar-nos por entre os dedos como se fosse manteiga. É um vira para o lado, vira para o outro, de barriga para cima, de barriga para baixo, suspiro para cá, suspiro para lá.
 Mexe numa coisa, mexe noutra, mas com todo o cuidado para não se acordar quem dorme connosco com o barulho, ou talvez para não ouvirmos reclamações vindas de quem num sono profundo sonha que voa por entre as nuvens durante o anoitecer.
 E contudo foram passando as horas e o nosso corpo embriagado de sono e cansaço sempre decide fechar as precianas da alma e dar descanso a quem há muito queria dormir.
 Nasce o dia, e como todo bom português pomo-nos em pé e vamos à luta com um sorriso no rosto lembrando-nos que num ápice cairá de novo a noite e do nada voltará o monstro que nos espeta setas envenenadas no coração.