É duro, muito duro mesmo. Eles perseguem-nos, devoram-nos,
torturam-nos, moem-nos a cabeça, tiram-nos do sério, fazem-nos chorar, atormentam-nos,
não nos deixam dormir…horas a fio sempre neste vai e vem de lembranças.
É ver o sono passar-nos
à frente e a escapar-nos por entre os dedos como se fosse manteiga. É um vira
para o lado, vira para o outro, de barriga para cima, de barriga para baixo,
suspiro para cá, suspiro para lá.
Mexe numa coisa, mexe
noutra, mas com todo o cuidado para não se acordar quem dorme connosco com o
barulho, ou talvez para não ouvirmos reclamações vindas de quem num sono profundo
sonha que voa por entre as nuvens durante o anoitecer.
E contudo foram
passando as horas e o nosso corpo embriagado de sono e cansaço sempre decide
fechar as precianas da alma e dar descanso a quem há muito queria dormir.
Nasce o dia, e como
todo bom português pomo-nos em pé e vamos à luta com um sorriso no rosto
lembrando-nos que num ápice cairá de novo a noite e do nada voltará o monstro
que nos espeta setas envenenadas no coração.